Era uma senhora gorda com as unhas surpreendentemente limpas, roupa negra e impregnada de naftalina. Os dentes eram duas assustadoras garras rectangulares, que se debruçavam pretensiosamente sobre o lábio inferior. A expressão era de impaciência, desenhada em cada ruga, alongada em cada fio de cabelo grisalho. As pestanas eram quase inexistentes mas os tornozelos eram volumosos e inflamados, travando uma luta territorial com os sapatos. Se falasse, o som seria filtrado pelas enormes garras que tentava inutilmente esconder dentro da boca demasiado pequena. Iria para sua casa ou para a casa de algum dos seus. Talvez tivesse netos ou sobrinhos com vontade de aspirar sofregamente o cheiro a naftalina e abraçar o pescoço mole e revestido a várias camadas de gordura. Talvez até achassem piada aos dentes.
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