sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Há gente bem doida...

Quem achava que andar de eléctrico era algo que dificilmente proporcionaria aventuras, desengane-se.

Hoje de manhã o eléctrico ficou parado porque um carro avariou e ficou a bloquear a passagem. Como é sabido o povo exalta-se nestas situações e as expressões serenas e plácidas transformam-se em esgares retorcidos de ódio. Ouvem-se opiniões exaltadas muitas vezes suportadas por outros anónimos que partilham do mesmo desconforto: gera-se ali quase uma competição em micro-clima para ver quem está mais revoltado.

Quando estávamos finalmente a avançar, um senhor aproxima-se da janela e vê que um carro da polícia estava a chegar e começa a disparatar.

- Ai agora, agora é que aparecem, uma pessoa aqui atrasada para o trabalho... em vez de andarem aqui e avisarem as pessoas e prenderem os culpados...

O eléctrico pára. Os polícias estão mesmo ali. O homem cala-se. O leão feroz era na verdade um cão que só é mau dentro da jaula. O polícia responde, provavelmente a pô-lo na linha. E acaba-se a conversa.

Eu que já tinha pegado num livro já não esperava mais nada daquela viagem e queria era chegar sã e salva à agência... Eis senão quando entra uma senhora já com uma idade respeitável (ou não) e se senta ao meu lado. Nada de mais. Mas a seguir entra uma mulher de meia-idade, brasileira que pede informações ao senhor que refilou com a polícia, ele dá-lhe uma informação errada e qual não é o meu espanto quando a mulher ao meu lado acaba por chamar parvalhona à brasileira. De phones e sem tirar os olhos do livro não é fácil perceber os meandros da discussão, mas quando os gritos são ali ao lado não há como não ouvir.

- Desculpe? Mas a senhora chamou-me parvalhona porquê?

- Ah blam blam blamm e tal  – até aqui não percebi grande coisa e só quando a brasileira virou costas é que eu percebi o que estava prestes a acontecer, ouvi claramente um “é brasileira e basta!” nada inocente que de certeza não iria passar impune.

A brasileira voltou, gritos e mais gritos e “a senhora acha-se melhor do que os outros, qual é o seu problema? Sou brasileira e pago mais impostos do que você, cale-se. Não tem nada que me faltar ao respeito.” A brasileira volta para o seu lugar e a mulher ao meu lado, não satisfeita começa a dizer enormidades como:

- Eu não lhe chamei parvalhona por mal, ela estava a receber uma informação errada, não foi por mal. Mas vêm para cá... olha o senhor meu marido que é polícia havia de gostar disto! É uma tristeza, vêm para cá...

Eu, no meu canto, a tentar não me rir e ao mesmo tempo verdadeiramente constrangida por ter aquela pessoa ao meu lado, tentava abstrair-me. Ouviam-se outras opiniões pelo eléctrico: “pois, mas não ligue”, “sim, sim mas vá deixe lá isso”, “vá mas não é preciso chamar nomes às pessoas, olha agora”...

A brasileira volta a voltar. E eu aí tive de morder o lábio e fazer um esforço hercúleo para não me partir a rir.

- A senhora está a brincar comigo? Qual é o seu problema? Eu não a desrespeitei, que eu saiba, você chamou-me nomes sem razão nenhuma e continua a insistir qual é a ideia?

A brasileira agarra no braço da senhora. Isto vai dar chapada - pensei. E a esta altura eu já só estava à espera que elas começassem à estalada mesmo ali ao lado e já estava mesmo a ver que ia sobrar para mim. O eléctrico pára. A guarda-freios grita:


- Minhas senhoras, vamos lá acabar com a discussão senão vão ter de sair as duas!!

A brasileira cala-se e regressa ao seu lugar. A senhora ao meu lado continua a disparatar como se fosse dona da razão.

- Minha senhora, estou a falar consigo!

Calam-se. Mas... antes da brasileira sair na sua paragem volta ao pé da senhora. Disse-lhe tudo o que quis e ela até tremia no banco. Depois saiu. E assim que a brasileira saiu a senhora ao meu lado voltou a disparatar que “já não há respeito” que “realmente, uma pessoa atura cada coisa”...

E eu penso: que cambada de cobardes. O outro cheio de coragem de dentro do eléctrico que depois se encolheu quando a polícia ficou mesmo ao lado. Esta anormal – eu nunca tentei ser imparcial aqui, aquela estúpida ao meu lado não tinha nada naquela cabeça – que acha que é a maior e que pode dizer o que quiser a quem quiser. 

A sério. O que é que se passa com esta gente?

2 comentários:

Neuza Rodrigues disse...

ahahahah.
Não posso!!!
Ai oh páh... eu é que não queria estar no teu lugar... odeio barracas e gente anormal! Inda tinha era mandado calar a senhora idosa e dps quem tinha que ouvir era eu.
Lol, mt boa a tua história. Assim se começa o dia.
Bjinhos

Ju Bonassa disse...

Oi Tatiana, adorei o seu blog!
Poxa, mas que senhora mal educada. Respeito é bom e todo mundo gosta.
Bjinho.